quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

(H)AIdeTI

Ai de ti, se eu não te perdi.
Bom pra mim?
Ai de mim, que ainda te amo.

Sempre assim?

Ai de nós, que não lutamos mais.
Tanto faz?
Ai de nós, se já estamos sós,
mesmo assim.

Ai de ti, tão sem mim.
Ai de mim, tão sem ti.

Ai de nós, nessa vida tão vazia.
Ai de nós, pura saudade e nostalgia.


Ai de ti, com dor na consciência.
Ai de mim, dor e consciência.

Ai de mim, porque me matas em ti a cada dia.
Ai de mim, que não mato em mim essa agonia.

Ai de ti, sem casa e sem marido.
Ai de mim, sem você, sem nossos filhos.

Ai dessa vida, sem o amor de nós dois.
Ai de nós e do que virá depois.
Ai dessa vida, depois que o amor sair.

Ai de mim; o Haiti é logo ali.

7ª da série "diálogos curtos":

Eu só falei sobre lembranças ruins que me atormentavam. E só falei porque ela me perguntou. Então, ela disparou:

- Se eu fosse como tu, realmente, eu seria muito triste.

Bom, o que essa certeza dela causou em mim evitou que o diálogo prosseguisse. E, por alguns instantes, fez parar também outras coisas...

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Minha bagunça

Eu já tô com tudo pronto:
camisa, seu cheiro e saudade.
Sei que é complicado esse jogo
de amor, paixão e amizade.

Então, eu entendo o que é certo,
e não vou te cobrar absurdos -
arruma a bagunça que eu fiz,
que o que der pra mudar, eu mudo.

Eu já rasguei o retrato
que eu guardava comigo...
Talvez, agora, fique mais fácil.
Quem sabe, assim, eu consigo...

Só tenta ficar bem, meu bem...
E vê se dorme tranquila,
sem esquecer que toda noite
sempre acaba bem no dia seguinte...

Use o player abaixo para ouvir a atual música de fundo do blog:

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

36, oras!

Essa questão de tempo é muito relativa. Sempre foi! Eu não nasci sabendo disso, mas sei desde que nasci. Até para nascer, o tempo nos é relativo. É de conhecimento geral que, para nascer, passamos por nove meses de gestação. Mas, mesmo com esse conhecimento do senso comum, minha irmã mais nova nasceu de oito meses, tantas outras crianças de sete, outras de seis... Enfim! O tempo que se leva da gestação até o nascimento é relativo.

Em qualquer "instância" em que se tome o tempo, estará lá a relatividade. Um segundo é quase nada. Em um segundo eu não escovo meus dentes, não troco de roupa, não faço um café. Ainda que muita gente responda "Um segundo...", quando alguém lhe pede algo, em um segundo não se faz muito. Ou seja, um segundo é quase nada. Será? Vai dizer isso pro atleta dos 100m rasos, que perdeu o ouro porque chegou menos que um segundo atrás do primeiro colocado.

Um minuto. Isso vai ser pouco se eu quiser revisar a prova, arrumar meu quarto ou escrever uma matéria. Mas, "um minuto" me lembra quando eu e uns amigos de curso (Jornalismo), visitamos uma tevê da cidade e a funcionária responsável pela programação televisiva nos disse: "Um minuto parece pouco, né? Na tevê é uma eternidade. No rádio é mais que isso". Ou seja, um segundo, um minuto... o tempo é relativo.

E não importa se é uma hora, um dia, uma semana, um mês. Uma hora é pouco se eu estiver me divertindo e pode ser muito se eu estiver fazendo um trabalho chato. Em um dia, o sol gira ao redor da Terra (gira?), mas não dou a volta na cidade a pé. Uma semana passa voando se no domingo seguinte as férias forem acabar, mas se arrasta se for a última do semestre letivo. Um mês tem trinta dias de todo jeito, mas, a depender do que aconteça, de como estejamos, pode parecer ter três ou trezentos.

O tempo é, todo ele, e sempre, relativo. E não venha dizer que não é assim. É, sim! E em qualquer circunstância, boa ou má. É assim no trabalho, no estudo, no lazer, no descanso. E é, mais ainda, para quem sente saudade. Para quem sente saudade, o tempo é relativizado aos píncaros (tsc, tsc). Para quem sente saudade... O segundo de um olhar. Um minuto de mãos dadas. Uma hora de conversa. Um dia todo junto. Um mês se vendo sempre. Um ano morando junto. Uma vida compartilhada.

O tempo é relativo, mas sejamos pragmáticos. Foram só 36 horas sem te ver. Foram intermináveis 36 horas sem ver, sem estar perto, sem tocar, sem sentir o cheiro. 36 longas e angustiantes horas, em que o tempo não parecia passar, em que o dia não escurecia (parecia já estar escuro), em que a vida insistia em não andar. Um dia e meio, que é pouco para construir uma casa, para organizar um time, para estruturar uma vida, mas, para quem ama e se vê perdendo e sendo perdido, é muito tempo. Afinal, isso é saudade! E não foram 36 anos. Mas, também não foram 36 segundos. Mas, não importa. Foram 36, oras!

Que as músicas falem por mim #9

"Quantas noites não durmo?
A rolar-me na cama,
a sentir tantas coisas
que a gente não pode explicar quando ama...
O calor das cobertas
não me aquece direito.
Não há nada no mundo
que possa afastar
este frio em meu peito
.

Volta!
Vem viver outra vez ao meu lado.
Não consigo dormir sem teu braço,
pois meu corpo está acostumado.

Ah, você está vendo só
do jeito que eu fiquei
e que tudo ficou?
Uma tristeza tão grande
nas coisas mais simples que você tocou.
A nossa casa, querida,
já estava acostumada, guardando você.
As flores A paisagem na janela sorriam, cantavam,
por causa de você.

Olhe, meu bem,
nunca mais nos deixe, por favor!
Somos a vida e o sonho.
Nós somos o amor.
Entre, meu bem, por favor!
Não deixe o mundo mau
lhe levar outra vez.
Me abrace simplesmente.
Não fale, não lembre,
não chore, meu bem..."

("Volta", de Lupicínio Rodrigues)

sábado, 5 de fevereiro de 2011

A menina que me apaixonou [ato segundo]

Leia também:
ato primeiro

À menina que me apaixonou, ainda antes que me apaixonasse, dias depois de apenas olhá-la, de longe ou de perto, passei a chamar pelo seu nome; um nome sutil, sonoro, sorridente, eu diria. Os nossos dias seguiam sempre muito parecidos, mas, vendo daqui de onde estamos agora, percebo que eles iam, bem aos poucos, nos unindo. E cada vez mais eu me aproximava daquelas feições - que haviam de ser minhas um dia -, daquele sorriso, daqueles dentes brancos e bonitos. E do cabelo impecável que, eu descobriria mais tarde, era como um manto que cobria pecados. E, como já pareceu ser desde que a vi, realmente eu não estava imune aos seus encantos. E, mesmo sem ainda perceber o quanto, e sem ser, ainda, paixão, não estive imune naquela praia, naquele luau, dentro do mar...

É quase imprescindível ouvir a música que está rolando no blog. Se não estiver ouvindo, use o player abaixo.

Sai, saudade!

Imagem "selecionada" por Karaka

Só sei sair sozinho, sem sorrisos, sem saber sequer se seu sorriso saiu sozinho. Se sei sentir saudades? Sei, sim. Sempre soube: só satisfaço-me se sinto sorrateiramente; só assim. E sigo sozinho, sem sossego... só!

Minha vida, o velhinho e essa cama

Eu juro que não tenho culpa. Ou, se a tenho, não percebo. Mas, a minha vida resolveu prostrar-se em cima dessa cama. E o que me assusta é a lembrança de um velhinho que eu já vi em situação parecida. Ele também não saía da cama. Não por não querer, mas por não conseguir. E era lastimável ver o tal velhinho assim. Aos poucos, de tanto que ficava apenas na cama, o velhinho foi ficando magro e cada vez mais velho. Era ali mesmo, na cama, que o velhinho misturava seus líquidos: lágrimas, suores, urinas e sangues. O velhinho ia-se acabando aos poucos. Sua pele ficava gradativamente desgastada por causa do contato com os lençóis e o colchão. Algumas partes do seu corpo chegaram a mostrar a carne, e parte desta carne, me acredite, já apresentava mofo. Era triste a situação do velhinho prostrado naquela cama. E é isso que tenho medo que aconteça com a minha vida. Porque, assim como o velhinho, não é que eu não queira tirar minha vida de cima dessa cama. Eu, simplesmente, até agora, não vejo como posso fazer isso.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Vítima de súbita desaceleração do coração, morre o fazedor de escritos Carlos Eduardo

Morreu, no final da noite desta quinta-feira (3), o fazedor de escritos Carlos Eduardo Vieira do Carmo, de 28 anos. Mais conhecido por Cadu, Carlos Eduardo também era um protótipo de Jornalista e um colecionador incorrigível de sonhos bons. Há meses, Cadu vinha sofrendo de desaceleração compassada dos batimentos cardíacos. E na noite desta quinta, uma parada súbita dos seus lampejos de vida o levou à morte. Segundo informações dos anjos que o socorreram, Cadu sofria de um mal que assola há anos a humanidade: o "mal de amor".

As notícias mais recentes que se tem sobre o quadro de vida de Cadu dão conta de que seu coração vinha resistindo miraculosamente a uma praga que se alastrara nos últimos 16 meses pelo seu organismo. Mas, segundo o diagnóstico dos primeiros anjos que prestaram atendimento ao fazedor de escritos, o mal começou meses antes, quando, aparentemente sem perceber, Cadu foi tomado pelo "desvio" conhecido universalmente como o "mal de amor". Ainda de acordo com o diagnóstico dos anjos, este é um "desvio" contra o qual não há droga que surta efeito. Ainda lhe foi receitado "tempo", em doses diárias, mas não foi suficiente.

Os anjos ainda informaram que, com a desaceleração do coração, Cadu, antes de morrer, passou por alguns efeitos colaterais que, às vezes, não parecia, mas causavam muita dor à vítima. Entre as debilitações maiores por que passou Cadu antes de morrer, destacam-se três: 1) esmaecimento crônico do brilho nos olhos - isto o fazia não transmitir mais a mesma alegria de outrora; 2) degeneração da força física, em decorrência da fraqueza de espírito - pelo estrago interno que o "mal de amor" lhe causara, Cadu perdeu forças também físicas e já não conseguia ajudar aos que estavam ao seu redor; e 3) perda da expressividade facial, sobretudo na região dos lábios - o sorriso de Cadu estava sumindo.

O corpo de Cadu foi encontrado no quarto de um apartamento, próximo à sua residência. Informações ainda extra-oficiais indicam que a equipe angelical de apoio foi mobilizada por um outro anjo, que estava ao lado do corpo quando o socorro chegou. As suspeitas são de que este anjo, de nome indivulgável, tenha relação com o que fez o fazedor de escritos sucumbir. O anjo será ouvido, ainda, por uma Corte Especial de Arcanjos e Querubins (Ceaq), montada exclusivamente com a intenção de fazer com que se apaziguem as dores, se acalmem os corações e se faça seguir tranquila a vida para os que ainda a têm.

Os familiares de Cadu não convidam parentes e amigos para o sepultamento, simplesmente, porque não haverá enterro. Não haverá velório, nem vela, nem coroa de flores. O corpo de Cadu foi encaminhado, diretamente pelos anjos, ao local onde residem os seus sonhos mais inimagináveis e suas dores menos suportáveis - um lugar onde há verde em demasia, onde tudo parece maior, onde Cadu sempre, quando em vida, se sentia pleno, estivesse feliz ou triste.

Os anjos informaram, ainda, que encontraram, preso entre os dedos da mão esquerda de Cadu, um pedaço de papel escrito em caneta preta - uma espécie de testamento. Nas poucas linhas escritas pelo protótipo de Jornalista - aparentemente instantes antes de morrer - há indicações de pequenas heranças que ele deixa para os que ficam. Leia, na íntegra, as últimas e poucas palavras de Cadu, escritas na sua "despedida testamental":

"O meu sorriso, que eu tanto fiz questão de oferecer aos ventos, deixo para Karaka, que é, disparado, a pessoa que eu mais amo nessa vida. As conquistas, poucas, que tive na vida, entrego a Papai e Mamãe, por quem sempre tentei conquistar. Às minhas irmãs, deixo ficar o meu pedido de desculpas pelas falhas. A Hercules, deixo um legado de anos da amizade mais pura que já pude viver. O Picoto, que nunca foi, de fato, meu, deixo aos Picoteiros de bom coração. Os meus escritos, que continuem sendo lidos pelos que gostam de lê-los. A borboleta transparente que pende no meu peito em fio também transparente, peço que deixem que borboletas coloridas venham e a levem. E aos anjos que sei que virão me buscar, peço que cuidem de todos que citei aqui. Amei vocês com as forças que pude."

"Ei-lo no ar, de braços abertos, dando o salto do anjo"
(p. 95, do livro "O menino do dedo verde", de Maurice Druon)


Cadu deixa aqui onde tanto fez rir e riu, onde tanto fez chorar e chorou, onde tanto ajudou e foi ajudado, um acervo imensurável de palavras escritas, ditas e caladas, uma coletânea de erros e acertos, uma lista enorme de amores que fez nascer, e as saudades que ele sempre fez questão de carregar consigo, porque, como dizia, "não há de haver saudade, sem ter havido, antes, amor".

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Lágrimas de nescau

"Não pedi que ela ficasse.
Ela sabe que na volta ainda vou estar aqui."
("Romance ideal", dos Paralamas do Sucesso)

Sempre que eu me pego em situações como essa, em que a distância que separa a gente é mais que apenas quilômetros, estradas e cidades, acabo me voltando para mim mesmo, na tentativa de tentar me responder, com o máximo de clareza que eu puder, o que, de fato, está acontecendo com a gente. Mas, quase nunca consigo.


E, de novo, ouvir sua voz, por telefone, me deu a sensação de que você não estava apenas do outro lado da linha. Parecia estar do outro lado da vida que a gente tentou construir, pensou ter construído, mas ao que parece, de verdade, não chegamos nem a alicerçar. Foi uma tentativa bonita. Mas, parece que foi apenas isto: uma tentativa.

E nem me refiro às lágrimas que ainda estavam na sua voz e que me pareceram doença. Claro que elas incomodam - a você e a mim. Mas, honestamente, o que me fez perceber o quanto eu estou perdido nesse emaranhado de perguntas sem respostas foi me perceber, sozinho, quieto, tomando um nescau gelado, neste apartamento gelado. E você nem fará mais isso comigo... porque acabou!