sábado, 5 de fevereiro de 2011

Minha vida, o velhinho e essa cama

Eu juro que não tenho culpa. Ou, se a tenho, não percebo. Mas, a minha vida resolveu prostrar-se em cima dessa cama. E o que me assusta é a lembrança de um velhinho que eu já vi em situação parecida. Ele também não saía da cama. Não por não querer, mas por não conseguir. E era lastimável ver o tal velhinho assim. Aos poucos, de tanto que ficava apenas na cama, o velhinho foi ficando magro e cada vez mais velho. Era ali mesmo, na cama, que o velhinho misturava seus líquidos: lágrimas, suores, urinas e sangues. O velhinho ia-se acabando aos poucos. Sua pele ficava gradativamente desgastada por causa do contato com os lençóis e o colchão. Algumas partes do seu corpo chegaram a mostrar a carne, e parte desta carne, me acredite, já apresentava mofo. Era triste a situação do velhinho prostrado naquela cama. E é isso que tenho medo que aconteça com a minha vida. Porque, assim como o velhinho, não é que eu não queira tirar minha vida de cima dessa cama. Eu, simplesmente, até agora, não vejo como posso fazer isso.

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