segunda-feira, 1 de julho de 2013

Que as músicas falem por mim #24

Acho que você não percebeu
que o meu sorriso era sincero.
Sou tão cínico às vezes;
o tempo todo
estou tentando me defender.
Digam o que disserem,
o mal do século é a solidão:
cada um de nós imerso em sua própria arrogância,
esperando por um pouco de afeição.
Hoje não estava nada bem,
mas a tempestade me distrai.
Gosto dos pingos de chuva,
dos relâmpagos e dos trovões.
Hoje à tarde foi um dia bom;
saí pra caminhar com meu pai;
conversamos pensei sobre coisas da vida
e tivemos um momento de paz.
É de noite que tudo faz sentido;
no silêncio eu não ouço meus gritos.
E o que disserem,
meu pai sempre esteve esperando por mim.
E o que disserem,
minha mãe sempre esteve esperando por mim.
E o que disserem,
meus verdadeiros amigos sempre esperaram por mim.
E o que disserem,agora meu filho espera por mim.
Estamos vivendo
e, o que disserem, os nossos dias serão para sempre.


("Esperando por mim", de Legião Urbana) 

terça-feira, 4 de junho de 2013

Que as músicas falem por mim #23

Eu gosto de andar pela rua,bater papo, de lua e de amigo engraçado.
Eu gosto do estilo do Zorro,
o visual lá do morro e de abraço apertado.
Eu gosto mais de bicho com asa
mais de ficar em casa e mais de tênis usado.
Eu gosto do volume, do perfume
do ciúme, do desvelo e do cabelo enrolado.
Eu gosto de artistas diversos,
de crianças de berço e do som do "atchim".
Eu gosto de trem fora do trilho,
de andar com meu filho e da cor do marfim.
Tem gente, muita gente que eu gosto,
que eu quase aposto que não gosta de mim.
Eu gosto é de cantar...
Vamos celebrar, celebrar, celebrar... Vamos celebrar
Vamos celebrar, celebrar, celebrar... Vamos celebrar
Eu gosto de artista circense,
de astista que pense e de artista voraz.
Eu gosto de olhar para frente,
mas de amar para sempre o que fica para trás.
Eu gosto de quem sempre acredita:
a violência é maldita e já foi longe demais.
Eu gosto do repique, do atabaque,
do alambique, badulaque, do cachimbo da paz.
Eu gosto de inventar melodia,
da palavra "poesia" e de palavra com til.
Eu gosto é de beijo na boca,
de cantora bem rouca e de morar no Brasil.
Eu gosto assim do canto do povo
e de tudo que é novo e do que a gente já viu.
Eu gosto é de cantar...
Vamos celebrar, celebrar, celebrar... Vamos celebrar
Vamos celebrar, celebrar, celebrar... Vamos celebrar
Eu gosto de atores que choram ali por nós
e namoram ali por nós na TV.
Eu gosto assim de quem é eterno
e de quem é moderno e de quem não quer ser.
Eu gosto de varar madrugada,
de quem conta piada e não consegue entender.
Eu gosto da risada gargalhada,
da beleza recriada pra que eu possa rever.
Eu gosto de quem quer dar ajuda
e acredita que muda o que não anda legal.
Eu gosto de quem grita no morro
que a alegria é socorro e que miséria é fatal.
Eu gosto do começo, do avesso,
do tropeço do bebum que dança no carnaval.
Eu gosto é de cantar...
Vamos celebrar, celebrar, celebrar... Vamos celebrar
Vamos celebrar, celebrar, celebrar... Vamos celebrar
Eu gosto é de ver coisa rara,
a verdade na cara é do que gosto mais.
Eu gosto porque assim vale a pena;
a nossa vida é pequena e tá guardada em cristais.
Eu gosto é que Deus cante em tudo
e que não fique mudo, morto em mil catedrais.
Eu gosto é de cantar...
Vamos celebrar, celebrar, celebrar... Vamos celebrar
Vamos celebrar, celebrar, celebrar... Vamos celebrar

("Vamos celebrar", de Oswaldo Montenegro) 

quarta-feira, 27 de março de 2013

Milhares de centímetros


Eu gosto do fato de ter encontrado você. Sim, porque acho que fui eu que encontrei você, meio perdida que devia estar, mesmo sem perceber que estava. Ou talvez não estivesse e eu que prefiro fantasiar isso. Mas o fato é que gosto.

Gosto do seu olhar desde que o vi. Ou, quem sabe, até antes mesmo de vê-lo. Talvez porque eu já pudesse imaginá-lo, à minha maneira, quando queria supor a gente se olhando. Entorpeço quando você me olha sério, reto, intenso, castanho, quase oriental. À sua medida, oriental.

Gosto de ver você andando e quase rio quando se apressa. Porque você parece uma menininha de sete anos de idade, quando assusta os olhos e corre para fugir de um cachorro na rua, que nem está latindo para você. Mas não importa: você só quer ficar segura.

Gosto quando você erra o que quer dizer, porque “não era bem assim”, e percebe que falou besteira. Aí você se apressa em tentar corrigir, tentar me afagar, mas já sabendo que a besteira não foi ruim, que foi até engraçada, e você trata em deixar tudo mais engraçado e feliz. Talvez só para me ver sorrindo. Gosto também do jeito que você diz que gosta de me ver sorrindo.

Gosto como percebo tantos detalhes seus, mesmo os que não me agradam. Por exemplo, quando franze o cenho porque não gosta do que está acontecendo ao nosso redor e de como algumas coisas perturbam a nossa paz. Ou quando a parte inferior dos seus olhos, oposta à pálpebra e que eu não sei o nome, quase treme porque você resiste em dizer algo chato. Ou como o seu olho costuma ficar vermelho antes de ficar suado. Suado. Nada de choro. Ou como você dá tapinhas ou soquinhos nas minhas costas quando nos abraçamos e você não está totalmente entregue ao abraço.

Gosto do seu “sim” quando o mais comum para alguma pergunta minha seria uma resposta apenas com um verbo. Gosto do seu “daí” e da saudade que sinto dele. Gosto dos nossos códigos e de como certas coisinhas nossas foram criadas tão naturalmente. Gosto de parecer idiota contando kombis pelas ruas. Gosto mesmo.

Gosto de ter uma das suas coxas como travesseiro enquanto você descansa sua cabeça em uma das minhas coxas. Direita com esquerda ou esquerda com direita. A propósito, gosto da textura das suas coxas. Gosto apaixonadamente. Com sofreguidão.

Gosto da sua covinha, sobre a qual há muito não falo e da qual há tanto tempo gosto.

Gosto do seu contorcionismo tentando fugir da morte que a “cosquinha” causa.

Gosto do jeito sexy e doce, avassalador e meigo, arrebatador e pueril com que você age em muitos dos momentos em que estamos a sós. Do detalhe de cada toque. Dos dedos comprimidos contra as costas. Das unhas deixando marcas. Das marcas.

Gosto de como você consegue ser tão azul para mim, mesmo tendo o cabelo tão vermelho. E de discutir com você qual o jeito certo de segurarmos um a mão do outro, mesmo a gente já estando tão certos de que o certo é que o meu polegar fique à frente do seu.

Gosto de como sua cintura parece se afunilar ainda mais quando eu a “modelo” com minhas mãos e espalho meus dedos sobre ela. Mas antes de fazer isso, gosto de ficar apenas olhando-a, como se fosse a última coisa que eu pudesse ver ou fazer. E geralmente é assim com cada parte do seu corpo.

Gosto de ver você dançando, mas, mais ainda, gosto de como você, enquanto dança, consegue esquecer que pode me olhar nos olhos e faz isso.

Gosto de como tentamos ser amigos e de como conseguimos várias vezes. De como você usa as pontas dos seus dedos entre costelinhas minhas, de como deixa de ver certas coisas antes mesmo de fechar os olhos, de como fica molhada de suor sem transpirar.

Gosto, enfim, de estar escrevendo isso. Não para me declarar. Longe disso. Mas para fazer saber por que ainda estou aqui e o que me faz querer continuar. Não que outras coisas não existam. Mas essas existem e, em alguns momentos, isso é tudo o que importa.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Que as músicas falem por mim #22

Você me bagunça, tumultua tudo em mim.
Essa moça ousa, é musa, e abusa de todo meu ser.
Você me bagunça e tumultua tudo em mim.
Mira e joga baixo, eu acho, nem sei...
Só sei que foi assim.
 

Assimila, dissimula, afronta, apronta, descarrega-me nos abraços,
lapida minha pedra bruta, insulta, assalta-me os textos, os traços
e desapropria o rumo, o prumo... Juro: me padeço com você.
Me desassossega, rega a alma, roga a calma em minha travessia,
outro porquê.
 

Parece que o coração carece disparar, silenciar,
se embrulha e se embaralha.
Reconsiderar o ar, o andar, nossa absolvição, a escuta e a fala.
Nos amores há o dia, pia, corredor, calçada, o passeio e a sala.

Se perder sem se podar e se importar comigo;
aprender você sem te prender comigo.

Difícil precisar, quanto preciso...

Difícil precisar, quanto preciso...

("Você me bagunça", de O Teatro Mágico)

terça-feira, 17 de abril de 2012

Não importa quando...

Sentaram-se, então, os dois, no chão, um apoiado no outro pelas costas. Não que quisessem se ignorar mutuamente. Antes disso, queriam sentir-se um ao outro, mas sem dar muito na vista. Assim, sentados como estavam, podiam sentir seus movimentos, podiam, inclusive, programar algum movimento e, de forma intencional, fazer o outro perceber que determinada inspirada de ar mais profunda ou um inclinar de cabeça mais para trás, foi única e exclusivamente a tradução de "Ei, estou aqui, e é bom sentir que você está também". Ele estava de frente para o campo de futebol, mas, honestamente, mal prestava atenção nas jogadas. Ela estava voltada para mais dois amigos e para a filhinha da vizinha, uma menininha adorável de quem ela cuidava naquele dia. A certa altura, ele girou o pescoço o máximo que pôde, afinal, só assim conseguiria, além de senti-la com as costas, vê-la. Depois de algum tempo, de alguns giros de pescoço para os dois lados, ele fez o giro para a direita e, segundos depois, ela também girou o pescoço; para a esquerda. Não podiam se encarar por motivos óbvios, mas se viram. Se olharam. Sorriram com os cantos das bocas e os cantos dos olhos, já que só de canto de olho podiam mesmo se olhar. Murmuraram alguns gracejos como quem diz que aquilo é bom e que estavam com saudades. Ela disse uma piadinha que ele não entendeu de imediato: "Você costuma aparecer por esses lados?". Ela riu ao percebê-lo sem entender e não quis mais repetir. Ele voltou o pescoço para o outro lado, o esquerdo. E ela correu em acompanhá-lo, girando o pescoço para o lado direito. Quando ela o alcançou, ele já a esperava com outro sorriso, agora mais farto, e disparou, cantarolando aos assobios: "Aonde quer que eu vá, levo você no olhar". Foi hora de os dois sorrirem soltamente, quase gargalharem. Isso deu liberdade a mãos e braços. Ele jogou a cabeça para trás, deitou a nuca no ombro direito dela, que fez o mesmo, reconfortando-se no ombro direito dele, passando os dois a mirarem o céu, as estrelas. Não pareciam mais haver o jogo de futebol, nem mais os amigos e a menininha adorável. Agora eram só os dois, o céu, as estrelas e a mão direita dele a percorrer a face esquerda dela, a orelha esquerda, o lado esquerdo da nuca e parte dos cabelos. Já a mão direita dela retribuía com um movimento parecido, mas que se detinha quase exclusivamente a roçar o canto esquerdo da boca dele. Na verdade, o canto esquerdo do sorriso dele, que se desfez quando ele a ouviu dizer "Eu achei que nunca mais ia me apaixonar...". Ele engoliu em seco, franziu a testa. Esse era um ponto sério das conversas que sabiam que teriam a qualquer momento. E ele já desfazia os carinhos para se virar e olhá-la de frente, mas parou quando ela completou: "Achei que nunca mais ia me apaixonar por você, mas aconteceu". Os dois ficaram congelados por alguns instantes, marcando segundos a segundos pelas respirações que se completavam. Então ele terminou o movimento de girar o corpo e encará-la. Estavam agora, um de frente para o outro. Depois de oito anos, se viam um nos olhos do outro.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Amor, despedida, saudades e números...

As datas marcavam o que não havia mais para esperar. "9.dez" estava destacado em vermelho no calendário que eu tinha posto na cabeceira da cama. Os dias 29 e 30 estavam riscados na sua agenda. Eu no canto sul da minha cidade, do meu estado. Você a quilômetros e saudades de distância. "9.dez". Dias 29 e 30. Eram os últimos segundos do dia 9 de dezembro. O relógio estava acelerado e você tinha que ir embora, mas ainda esperava que eu aparecesse. Seu avião às 9h10. O ponteiro girando: 29, 30 segundos antes da decolagem. E eu não cheguei. O carro pifava a 30, 29km/h. O dia 9, então, ficou para trás. E chegou o final do ano. Os dias 29 e 30 seriam os mais terríveis. Tudo porque 9 ou 10 cartas estavam engavetadas na sua casa. E 29 ou 30 dias podiam se transformar em 29 ou 30 anos.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Que as músicas falem por mim #21

"Quando eu ouço as canções leio os escritos que eu fiz pra você,
o tempo vem dizer
o que o tempo deve ser.
O espaço em que agora o meu passo chegar
vai dizer:
- amanhã já é outro lugar

Eu juro que é melhor, enfim.
Eu juro: vai ser melhor assim.

Eu já não ligo mais para você,
hoje não canto,
não falo, não saio, não durmo bem.
Os tênues fios que me ligam a você estão hoje em prantos
e, no entanto, arriscamos tanto nos envolver.

Desligo você.
Nus, Nos deslizamos.
Pra que te esquecer
se o amor é tanto?
Existo em você
por louco engano."

("Dois lados da canção", de Graveola e o Lixo Polifônico)

quinta-feira, 1 de março de 2012

É a vida... Bonita, bonita...

A vida vai passando,
feito passarinho,
devagarzinho,
de mansinho.

De repente ela acorda,
acelera ligeiro,
feito carteiro
sem dinheiro.

E, perigosa, ela te mostra
que tudo é muito urgente:
a alegria e os dias da gente,
a dor e o amor que a gente sente.

É complicado entender tudo.
Mas, só para saber, então, direito,
o que a vida, nessa urgência, te tem feito,
vou dizer tudo, agora, do meu jeito.

A vida tá te deixando bonita.
E eu cá do meu lado admirando.

A vida tá te fazendo madura.
E eu cá do meu lado aprendendo.

A vida tá te ensinando amores.
E eu cá do meu lado amando.

A vida tá te fechando os cortes.
E eu cá do meu lado sarando.

A vida tá te pondo os seus sóis.
E eu cá do meu lado sublimando.

A vida tá te pondo distante.
E eu cá do meu lado aproximando.

A vida tá te dizendo "bons dias".
E eu cá do meu lado calando.

A vida tá te escrevendo poesias.
E eu cá do meu lado assinando.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Negativo, Positivo.

Chegaram a me dizer que você me faz mal.
Mas, eu não acho. Acredito que o problema
está na dimensão de cada novo começo...
...a partir daqui.

Me disseram que cada novo passo
em direção ao desconhecido é em falso.
Cantei, então, para responder que,
pelo menos por enquanto, não vai ser o
seu nem o meu passo incerto que vai desandar as coisas.
Cá com meus botões, fiz questão de guardar o que é
belo e o que ainda me faz bem. Mas, nos falta
ver o que é que, de tudo isso, vai nos tornar
melhores. Até o fim. Eu sem você. Você sem mim.

(Escrito só para quem, de fato, quer entender)

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Menina bonita que só...

Do outro lado da rua,
sempre passa uma menina bonita,
andando ligeiro, escapando da chuva,
uma menina bonita que só.

Bonita que só a chuva,
que ainda era fraquinha.
Bonita que só a rua,
que só era bonita
na hora em que ela passava.

Menina bonita que só ela,
que ia só do outro lado da rua.
Que ia sem olhar pro lado ou para trás,
que ia sem olhar para mim.

O lado que eu estava da rua
parecia a plateia.
O lado da menina bonita que só
era o palco ou a passarela.
E a menina bonita que só
era ela, era ela...

Menina bonita que só...
Bonita que só a chuva, a rua, a lua.
Bonita que só peixe sem anzol,
que só vermelho ao sol.
Bonita que só contorno preto em olho diferente.
Bonita que só sorriso farto, cheio de dente.

Menina bonita que ficou andando do meu lado.
A gente lado a lado e a rua lá do outro lado.
Menina bonita que só a gente abraçado,
bonita que só um beijo estalado.

Menina bonita que agora anda na rua do outro lado.
Bonita que só a saudade que eu sinto da beleza que só ela tem.
Bonita que só a verdade que eu minto com a certeza que ela não vem.
Menina bonita que anda distante, sem chuva, sem lua, sem sol, sem semblante.

Menina bonita que só, que anda sozinha e me deixa só.
Menina bonita...
...que só pôr-de-sol,
que só arco-íris,
que só gargalhada,
quiçá a saudade
não faça morada,
no peito, na casa,
deste que lhe escreve.

Menina bonita que só...
Que sorte a sua...
Que sorte a minha...
Bonita que só...