quinta-feira, 16 de junho de 2011

Que as músicas falem por mim #16

Hoje eu não sei
se foi o que eu vi ou se eu viajei
numa onda de amor entre você e eu.
Sorri, mas é claro que não me calei.
Sonhei que o amor tava além
de tudo que havia na terra e no céu.
Eu gosto, mas sei que não me faz bem
a mistura homogênea
"meu leite, teu mel".
Mas tanta energia
cruzava fronteiras sem restrição
dos resquícios que havia,
de barreiras em meu coração.
Sonho Eu sonhava em conhecer direito
tua ampla dimensão,
sem pisar no freio,
tentando conter essa emoção.

("Hoje", dos Paralamas do Sucesso)

domingo, 12 de junho de 2011

Não me queiram namorar

Eu já escrevi outra vez sobre o Dia dos Namorados. Mas, dessa vez, vou aproveitar este 12 de junho e dar um presente de Dia dos Namorados a todas as meninas que não são minhas namoradas. Meninas, vou-lhes dar um conselho tão importante e útil, que, se vocês tivessem como, me agradeceriam pelo resto da vida a partir do dia em que constatassem o quanto as minhas palavras lhes serviram. Claro, não vai ser possível, exatamente, tirar a prova, porque seguir o meu conselho anula a possibilidade de comprovação.

Confuso até aqui? Então, vou tentar simplificar. Eis o conselho: não me queiram namorar. Simples assim. Eu não sirvo como namorado. E esta não é uma frase que camufla uma falsa modéstia. Nem é um conselho baseado apenas na minha própria opinião. Esta é uma afirmação profundamente embasada, que tem como princípios as manifestações, diretas e indiretas, das principais “vítimas” dos namoros que tive; ou seja, minhas ex-namoradas. Mas, se o dito até aqui ainda é pouco para fundamentar o meu conselho, vamos às constatações.

Primeiro, uso dois argumentos baseados apenas nos fatos: 1) sou feio e 2) sou pobre. Claro, nem todas as meninas procuram um cara lindo e rico. Eu sei. Mas, se, por acaso, encontrarem um, nada mau, né? Só que, em mim, não encontrarão nada disso. Se “beleza masculina” fosse o Campeonato Brasileiro, por exemplo, eu poderia até não estar na zona de rebaixamento, mas, com certeza, estaria mais perto disso que do G4. Logo, beleza não é um atributo meu que atrai qualquer mulher. Nem MAMÃE me acha bonito. A última vez em que ela dirigiu um adjetivo como “fofinho” para mim acho que eu contava apenas alguns meses de vida.

No quesito financeiro, acho que a coisa piora. Se, por analogia, tomarmos o “financeiro” como sendo “beleza masculina”, que, por sua vez, é o Campeonato Brasileiro, aí, sim, talvez, eu estivesse na zona de rebaixamento. Não tenho carro, não tenho moto, moro de aluguel, e o que ganho para pagar minhas contas vem de um estágio e de um emprego informal com data marcada para acabar. Sim! Aos 28 anos, eu ainda não estou estabilizado financeiramente e estou num estágio, tentando me tornar alguém na carreira profissional que eu pretendo seguir.

Bom, mas talvez só isso ainda seja pouco. E eu concordo que esses dois motivos, sozinhos, não me colocam na condição de mau partido. Eu apenas não faço uma menina virar o pescoço para olhar para mim por ter cruzado comigo na rua e me achado bonito, nem chamo a atenção por causa do meu carro ou da minha moto, que ostento pelas ruas da cidade. Mas, como imagino que alguém ainda continue a leitura a partir daqui (no máximo, 50% dos que começaram), vamos às constatações baseadas nas evidências. E, para tanto, digo que tenho cinco evidências, também conhecidas como cinco ex-namoradas. E para evitar constrangimentos e comparações, as tratarei aqui como E1, E2, E3, E4 e E5 (ou N1, N2, N3...).

Eu e minhas amigas

Sempre fui um cara que se dedicou muito às amizades. Tanto que todas as minhas evidências namoradas foram minhas amigas antes. Bom, e eu nunca fiz distinção entre amigos e amigas. Já entre namorados e namoradas, sim, que fique bem claro! O fato é que, mesmo se eu estiver com uma atual namorada, eu mantenho as minhas amizades. O problema – pra minha atual namorada – é que, entre essas amizades que mantenho, estão as minhas ex-namoradas.

No início, isso até parece bonitinho; o cara prima pelas amizades. Mas, pergunte a E1, E2 e E5, pelo menos, o que elas acharam disso depois. Elas já quiseram esganar não apenas as minhas amigas de velhos tempos como, claro, as minhas ex-namoradas ainda amigas. Porque se há uma coisa que mulher não aceita quer é que seu atual namorado mantenha contato com as ex dele. E eu mantenho. Não só mantenho, como alimento; afinal, são minhas amigas.

Eu e minha devoção ao FLAMENGO

E1 sabe muito bem sobre o que vou falar. Eu não perco um jogo sequer do FLAMENGO. Para não perder um jogo do MENGÃO, eu já deixei de viajar com meus pais, já perdi prova na faculdade e concurso público. Já fiz prova do Enem às pressas para não me atrasar pro jogo. E quando digo me atrasar pro jogo, me refiro a ter que chegar a tempo de ver desde o início da transmissão, ou seja, o time entrando em campo ou antes disso. Então, o que faria minha namorada alguém achar que vou perder um jogo do FLA para sair com ela minha namorada? Não!

E não é só isso. Namorar um FLAMENGUISTA fanático como eu inclui andar, em dias de jogos, e em dias pós-derrota, com um cara preto e vermelho de cima abaixo. Além disso, logo depois de uma derrota, ou minha namorada vai pra casa dela e me deixa ir pra minha, ou vamos os dois pro lugar mais chato do mundo, que passa a ser qualquer lugar onde estejamos eu e meu mau humor contagiante. Porque nada vai estar bom depois que o FLAMENGO perde. Então, não adiantam carinhos, chameguinhos e nhém-nhém-nhéns, porque o mundo acaba de acabar quando o FLAMENGO perde. E, às vezes, isso dura até que vençamos de novo.

Eu e minha melancolia

Já leu as outras postagens deste blog? Se leu, já ficou claro que “melancolia” caberia muito bem como um dos meus sobrenomes. É possível que, no mínimo, este verbete esteja grafado na minha lápide (algo como "aqui jaz um melancólico"). Mas, antecipo que o que está postado aqui neste blog não exibe nem metade da melancolia que recheia o que eu costumo escrever. E, detalhe: eu escrevo o que sinto. E este é outro aspecto que, a princípio, pode parecer atraente – e é! –, mas não caiam nessa. No início, é tudo muito poético e encantador, mas, com o correr dos dias, passa a ser tristeza demais, nostalgia em excesso, sofrimento aos montes. De E1 a E5, todas já “sofreram” um pouco que seja com isso.

Sem contar que isso se associa com outro ônus de me namorar. Como isso de escrever “poemas” – ou seja lá que nome deem a isso – atrai num primeiro momento, é bem possível que outras meninas leiam, gostem, se aproximem, se apaixonem e se encantem pelo cara que, talvez, eu pareça ser quando escrevo. E aí, o componente “meninas encantadas”, claro, vai gerar dano. É ou não é?

Eu e minha alergia

Já pensou namorar um cara capaz de emendar mais de uma dezena de espirros, um seguido do outro? E1 sabe bem o que é isso. Talvez não lembre, mas sabe. E o que dizer de um cara que rosna e faz um barulho estranhíssimo tentando coçar a garganta? E2 aturou, aturou, aturou... Esta é nojenta: um cara que tem o nariz, hora sim, hora também, escorrendo e, quando decide “inspirar” o que escorreria, engole o que “inspirou”? Acho que E5 já não aguentava mais.

O fato é que não é agradável aturar um cara com sinusite, rinite alérgica e bronquite asmática, tudo duma vez, ao mesmo tempo, sem parar. E o que me causa isso são os três Ps: pó, poeira e pêlo (puta não está incluso). Mas posso sucumbir a uma mudança brusca de temperatura, a um simples ar-condicionado e um inofensivo ventilador, a pelúcia, produto químico, maresia, frio, calor, livro, jornal. Ou seja, estar na Terra me faz estar espirrando, com o nariz escorrendo, rosnando e respirando pela boca, secando toda a minha saliva. Ou seja, ser minha namorada é o mesmo que namorar um porco selvagem tendo um ataque de epilepsia.

Eu e minha dedicação extremista a minha família

Eis outro fator que pode causar enganos. Assim, de primeira, parece lindo o meu jeito de ser um cara caseiro e família. Pode dar a falsa impressão de que essa é uma característica própria de uma cara com quem se deve casar, porque, afinal, depois do casamento, o que uma mulher quer e precisa, mesmo, é um marido atencioso, que fique em casa e se dedique à família. Bom, deveria ser, mas não é bem assim.

E1, E2 e E5 sempre gostaram muito de sair, curtir, aproveitar a vida e a juventude. Mas, bastava uma dessas tentativas coincidir com um momento em que MAMÃE precisasse que eu estivesse por perto porque, talvez, ela precisasse de mim, e lá estava eu, de prontidão, aos pés dela, minutos depois de ligar para a evidência namorada para desmarcar o compromisso que havíamos marcado semanas antes. Até hoje tenho a sensação de que E2 e eu chegamos a um ponto em que ela quase me impingiu um “ou sua mãe ou eu”. Mas, eu escapei dessa.

Eu e minha autossuficiência

Tem coisa mais chata do que um namorado que sempre quer ter razão? Um cara que quer o tempo todo te convencer do ponto de vista dele, e que sempre tem um contra-argumento para tudo que você diz. E5 aguentou isso por muito tempo, até que perdeu a paciência – porque, afinal, chega um momento em que é preciso perder a paciência – e jogou limpo e na cara: eu sou assim. Bom, eu já sabia, mas estava bom não ouvir isso tão diretamente. Só que, já que eu ouvi, faço o favor de repassar: eu sou chato!

E eu sou capaz de contestar as constatações mais incontestáveis. E1 dizia que é o sol que ilumina o dia e eu contra-argumentava que, talvez, houvesse algo, além do nosso conhecimento, que provasse o contrário. E3 dizia que o que respiramos é o ar e eu a interrogava com algumas possibilidades, tipo “o que é exatamente o ar?” ou “e se eu estiver com o nariz entupido?” ou ainda “respira para eu observar”. Não importa o que E5 dissesse, eu contestava. E, se eu ficasse calado, por pudor, pode ter certeza que, de alguma forma, eu a fazia saber que não me conformei com a afirmação dela.

(...)

Bom, acreditem, há muito, ainda, para listar. E nem sei se vou deixar de fazer isso para me preservar ou para mentir omitir. Mas, com certeza, prefiro não continuar dando motivos para conferir a essa postagem o título de “a postagem mais longa e chata de todas”. Afinal, é Dia dos Namorados, e vocês devem ter mais o que fazer do que perder tempo lendo esta m****. Cada um de vocês prefere, óbvio (eu também preferiria), estar no aconchego daquele a quem podem chamar de namorado (o "eu também preferiria" soou meio gay nessa frase que terminou com "namorado", né?). Mas, se vocês não têm a quem chamar de namorado, melhor ainda que ler essas infindaveiscentas linhas, é se remoer por estar a sós em pleno 12 de junho.

Mas, se você, menina solteira (ou não), chegou até aqui, com certeza, vai saber tirar proveito do que leu. Não vai se atrever a considerar a hipótese de me namorar. Sequer de se interessar por mim. E não apenas pelos motivos que já ofereci. Afinal, para não tornar o texto ainda mais longo e moroso, eu disse apenas que sou feio, pobre, melancólico, chato e nojento – agora sim, motivos suficientes para me categorizar como mau partido. Mas, eu poderia acrescentar que não gosto de festas e não sei dançar, não cozinho e sou antissocial.

Eu poderia citar, também, que se você visitar meu orkut, vai encontrar bem mais meninas que meninos na minha lista de amigos, e, consequentemente, mais recados melosinhos delas, do que recados grosseiros deles. Faltou dizer que eu guardo cartas, presentinhos e fotos das minhas ex-namoradas e até de algumas meninas com quem apenas fiquei e de outras que são só amigas (mas uma atual namorada nunca acreditaria que são só amigas).

Eu também não disse que E1 achava que eu a procurava pouco, que E2 dizia que eu não tinha iniciativa, que E3 me achava infantil, que E4 me chamava de desmemoriado e que E5 dizia que eu não era romântico.

Eu omiti que o tamanho do meu pênis está abaixo da média nacional e que eu sou tão bom de cama quanto FHC foi de Governo.

E eu também não disse que, por ter feito três cirurgias no joelho direito, ter torcido algumas vezes o esquerdo, ter quebrado o tornozelo e o braço direitos, tudo jogando futebol, e ainda insistir em jogar, a menina que me namorar e, porventura, se tornar minha esposa, vai ter que, ainda antes da terceira boa idade, me empurrar numa cadeira de rodas e me ajudar a fazer as necessidades fisiológicas.

Ou seja, por essas e por outras que eu não disse, eu não sou um bom partido e, se quiserem ter belos Dias dos Namorados daqui pra frente, aceitem meu conselho: não me queiram namorar.

Ah, eu já disse que detesto o Dia dos Namorados? Pois é! Odeio! Ainda assim, que vocês tenham felizes Dias dos Namorados. Estar longe de mim, com certeza, aumenta as chances de isso acontecer...

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Que as músicas falem por mim #15

Partir, andar, eis que chega
essa velha hora tão sonhada,
nas noites de velas acesas.
No clarear da madrugada,
só uma estrela anunciando o fim,
sobre o mar, sobre a calçada.
E nada mais te prende aqui:
dinheiros, grades ou palavras...

Partir, andar, eis que chega...
Não há como deter a alvorada.
Pra dizer, um bilhete sobre a mesa.
Pra se mandar, o pé na estrada.
Tantas mentiras e no fim
faltava só uma palavra,
faltava quase sempre um 'sim'.
Agora já não falta nada.

Eu não quis te fazer infeliz...
Não quis...
Por tanto não querer, talvez, fiz...

("Partir, andar", dos Paralamas do Sucesso)

Use o player abaixo para ouvir a música:

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Que as músicas falem por mim #14

Quando não há compaixão
ou mesmo um gesto de ajuda,
o que pensar da vida
e daqueles que sabemos que amamos?

Quem pensa por si mesmo é livre
e ser livre é coisa muito séria.
Não se pode fechar os olhos,
não se pode olhar pra trás
sem se aprender alguma coisa pro futuro.

Corri pro esconderijo,
olhei pela janela...
O sol é um só,
mas quem sabe(?) são duas manhãs...

Não precisa vir
se não for pra ficar
pelo menos uma noite
e três semanas.

Nada é fácil,
nada é certo...
Não façamos do amor
algo desonesto.

Quero ser prudente
e sempre ser correto.
Quero ser constante
e sempre tentar ser sincero.
E queremos fugir
mas ficamos sempre sem saber.

Seu olhar não conta mais histórias,
não brota o fruto e nem a flor.
E nem o céu é belo e prateado.
E o que eu era eu não sou mais.
E não Mas ainda tenho nada algo pra lembrar.

Triste coisa é querer bem
a quem não sabe perdoar.
Acho que sempre lhe amarei,
só que não lhe quero mais.

Não é desejo, nem é saudade.
Sinceramente, nem é verdade.

Eu sei por que você fugiu,
mas não consigo entender...
Eu sei por que você fugiu,
mas não consigo entender...

("L'avventura", de Legião Urbana)

Use o player abaixo para ouvir a música: