quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O lado ruim da parte boa da vida

Ah, é você?! Senta aí. Fica à vontade. A casa é sua. Deveria ser nossa, mas, por hoje, é sua.


Por mim, tudo bem se a sua mão quiser brincar na minha nuca. Eu bem que tô precisando de um afago.


Eu não vou precisar te contar a minha história. Teu semblante de anjo triste entrega tudo.


Hoje, até contar estrelas perdeu a graça. Elas parecem não cair mais. E, se não caem... cadê o nosso desejo?


Nunca mais uma dor veio sozinha. Elas, as dores, não pegam fila, não recebem senha. Maltratam.


Quando eu saí do banho, hoje cedo, você me trouxe a toalha e percebeu que restava alguma espuma na minha orelha. Mas, você não estava lá, nem podia. E eu precisei ir. Abotoei a calça, mas esqueci do zíper. Nem penteei o cabelo. O cadarço eu nunca amarro mesmo. Peguei a chave da casa, a do carro. Peguei minha carteira amarrotada e saí sem dar satisfação a ninguém. A quem eu daria? Hoje, a ninguém.


Então, tô aqui fora, agora. O carro não quer pegar, mas, às vezes, é assim. Eu tenho certeza que enchi o tanque, mas... meus passos podem mais...


Por Deus, cadê você?!?


Esses olhares interrogativos, essas interpelações mudas, essa mudez irônica, esse sorriso pálido, essa palidez mórbida, essa morbidez estúpida, essa antipatia acra... Tudo isso é pra mim? Por mim? Em mim? Cadê a parte boa da vida? Eu sei que ela existe, mas podia ser menos superficial, hoje.


Nem mesmo esse cara, nesse espelho, dessa loja, parece ser eu. Eu corri e ele continuou lá, me olhando, com seu rosto magro, seus cabelos emaranhados, mas com súplica nos olhos, me dizendo, sem gestos, sem palavras, que era melhor eu voltar. Voltei. Encarei a dor que apareceu nos seus olhos e, nessa hora, eu ainda estava ofegante. Ficamos, então, esse cara e eu, frente a frente. Eu, sem saber por que estava ali. Ele, totalmente dono da situação. E, quando eu estava quase desistindo de ficar ali e me preparava para voltar a correr, ele perguntou, e eu estaquei ainda mais:


– Por que ela mexe tanto assim com você? – Só o vento ruía, agora. – Por que você não volta e espera? – Silêncio. – Às vezes, cara, a melhor coisa a fazer é esperar.


E eu não tive tempo de reação. Quando olhei para trás, vi a garagem de casa. E, quando voltei o rosto, o cara do espelho da loja já era passado...


Subi a calçada, abri a porta, deitei na cama, e acordei no teu colo...


Vai doer, vou chorar, mas, apesar de tudo, vou ter forças para te amparar.


Ainda bem que você ainda tá aqui. Fica. Hoje eu tô assim, mas amanhã o sol vai ser outro...


Um comentário:

Karaka' disse...

Eu num tenho um comentário "comentário" pra fazer. Só sei que gosto muito desse texto! Tenho até ele na minha caixinha de coisas boas! (sorriso)

É isso!