terça-feira, 9 de junho de 2009

Vou me acostumando...

É a imprevisibilidade do minuto seguinte que dá esse teor inefável à vida. Não havia sobre o que postar hoje. E eu não ia escrever sobre o fato de não ter nada para escrever. O dia vinha sendo cotidiano demais até o fim da noite. Até que, deixando uma amiga em frente ao prédio onde ela mora, ouvi de sua boca: "Eu já me acostumando sem você". E eu respondi: "Que bom!". Putz, como o nosso poder de se acostumar é fantástico.

Já ouvi dizer que a capacidade humana de amar é infinda. Pode ser. Mas, se há outra capacidade que se assemelha a essa, é a de se acostumar com as coisas. Acostuma-se muito fácil, mesmo que pareça difícil. Acostuma-se a estudar sem os velhos amigos de escola e acostuma-se com uma nova turma, mesmo que parecesse impossível se imaginar sem aquela primeira. Acostuma-se à nova vida que se passa a levar depois de um fim de namoro - demora-se, mas acostuma-se. Acostuma-se com a nova casa, os novos vizinhos, o novo bairro, depois que nos mudamos. Acostuma-se num novo emprego, com novos colegas de trabalho, novo patrão e até com novo salário, mesmo que menor. O nosso poder em acostumar-se é inacabável. Vai-se longe no acostumar-se. Claro, generalizo. Mas, posso especificar, me individualizar.

Eu me acostumei a jogar futsal, mesmo já tão adaptado a só jogar em campinhos de areia. Acostumei-me a comer verduras e até passei a gostar de muitas delas. Acostumei-me a sentir saudades. Perdi minha primeira namorada, e me acostumei a viver assim, mesmo tendo passado alguns meses morrendo. Acostumei-me à distância que mantive do meu primeiro amor, e agora, por mais cedo que seja, parece sempre muito tarde para qualquer atitude. Acho que já me acostumei a não me apaixonar mais. E quase já me acostumei a cansar rápido demais.

É assim a gasta caracerística humana de se acostumar. Somos adaptáveis. Somos, (in)felizmente, adaptáveis ao extremo. Sem medo, digo, inclusive, que nos acostumamos até com a morte - essa brincadeira sem graça da vida. Sim. Morre-se e acostuma-se. Vem o baque, o choro, a sensação de que o mundo termina ali; mas a vida segue, o semblante reage, os sóis continuam vindo e, quando se dá por si, já está-se acostumado. Não dá para dizer que não nos acostumamos. Será que há algo com que não nos acostumamos? É fato: acostuma-se.

Mas, do que fica, depois que penso em tudo isso, o que mais lateja, agora, em minha mente, é se é mesmo bom que minha amiga esteja se acostumando a ficar sem mim... Eu, honestamente, já nem sei mais. E, de uma forma ou de outra, vou me acostumando a me acostumar...

3 comentários:

Oito disse...

E o pior de tudo mesmo, é justamente esse "vou me acostumando a me acostumar..."

Cadu Vieira disse...

Oito, faz sentido. Faz muito sentido, cara!

Abraço! Bons dias!

CristHCr disse...

Vou me acostumando a me acostumar...
poxa.