terça-feira, 28 de abril de 2009

"Soneto do amor total" e as coisas que eu esqueço...

Sabe aqueles bilhetinhos que colegas de sala trocam no meio da aula com a nobre intenção de evitar conversas que atrapalhem a fala do professor? Pois é. Uma amiga minha me passou um desses na aula de hoje, perguntando se eu conhecia o "soneto do amor total". Caramba! Que poema! Um dos meus preferidos desde que eu era um pirralho e nem sabia direito o que era poesia. Lembro que me arrepiei algumas vezes em que o li ou o declamei de cor em voz (muito) alta. E... Meu DEUS! Como é que eu pude esquecê-lo? Bom, não o esqueci de fato; mas, ele já estava se esfarelando na minha mente.

Na íntegra, o bilhete que devolvi à minha amiga:

...........................................................................................................
Amo-te tanto, meu amor
Não cante o humano coração com mais verdade
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade
Amo-te afim, de um calmo amor prestante
e te amo além, presente na saudade
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
E com um desejo maciço e permanente
E de te amar assim, muito e amiúde,
É que um dia, em teu corpo, de repente,
Hei de morrer de amar mais do que pude.

P.S.: Só agora percebi que não sei distribuir os versos desse poema. Mas, se tu quiser, vemos isso depois, viu?

Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante
...........................................................................................................

Como dito no PS, só aí é que percebi que eu não sabia mais distribuir os versos do meu poema favorito. Não sabia mais declamá-lo. E será que não o sentia mais? Como é que o soneto que já me arrepiou os pelos dos braços algumas vezes, que eu declamei gritando no alto de uma montanha e em silêncio no meu quarto (...), como assim eu não lembrava mais dele? Como o esqueci?

Depois fiquei pensando em quantas coisas, instantes e pessoas - que eu pensei que não esqueceria nunca - já não existem mais em mim. Quantos bons momentos de minha vida só relembrei quando reli cartas, revirei gavetas ou revi fotos velhas? Por algumas vezes - e acho que isso acontece com todo mundo -, nos damos conta de algumas saudades que sentimos e nem percebemos. Quando um amigo que não vemos há muito reaparece; quando um cheiro ressurge e nos remete ao passado; quando o espelho nos mostra, em vez do nosso reflexo, alguém que não somos nós.

Reli o poema e revivi momentos silenciosamente. Senti saudades estranhas, mas boas de sentir. Sem querer, essa minha amiga deu um jeito de eu não esquecer por completo o meu soneto preferido.

Depois, quando ela leu o meu bilhete, me disse que aquele não era o soneto que ela queria ler (sorriso). Passou o dia sem lembrar qual era, na verdade, o que ela queria. Até que, à noite, cantarolei uma música de que gosto muito, e ela, com riso e brilho no olho, me disse que era aquele o soneto que queria ler, queria ouvir...

Ao acaso (se é que isso existe), um soneto e uma música lindos me voltaram à tona. E quantas coisas do meu passado eu gostaria que subissem ao nível para me encarar aqui em cima!... Ah, e quantas coisas não quero esquecer! Quantas! Acho que precisamos cuidar mais de certas coisas antes de sentirmos saudades delas. E mais ainda quando só sobrar a saudade...

E, para fazer saber, o soneto e a letra da música, que, a propósito, regaram meus ouvidos enquanto eu escrevia aqui:

...........................................................................................................
Soneto do amor total
(Vinícius de Moraes)

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante,
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade,
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude,
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente,
Hei de morrer de amar mais do que pude.
...........................................................................................................


Eu não existo sem você

(Tom Jobim e Vinícius de Moraes)

Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim,
Que nada nesse mundo levará você de mim.
Eu sei e você sabe que a distância não existe,
Que todo grande amor é bem grande se for triste.
Por isso, meu amor,
Não tenha medo de sofrer.
Que todos os caminhos
Me encaminham pra você.
Assim como o oceano
Só é belo com luar,
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar,
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover,
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer,
Assim como viver
Sem ter amor não é viver,
Não há você sem mim,

Eu não existo sem você.
...........................................................................................................

6 comentários:

Anônimo disse...

Oi! se o seus fragmentos cotidianos forem tão intensos, se tornarão grandes fragmentos da escrita brasileira ... Adoro essa música na voz de Nana Cayme, não conhecia esse poema. bjos! vou estar sempre por aqui... sou chatinha, pegajosa né?

Anônimo disse...

Ah! de um beijo na sua mãe amanhã é niver dela né? Bjo! vc sabe q sou eu né? Pois é eu mesma... Bjo!Xerô!

Anônimo disse...

hj vc não escreveu? bjos Hummm chato isso!Sorriso

... disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cadu Vieira disse...

Gostei das aspas na "covardia", mas dispenso o "V" maiúsculo do "Você" que, por si só, já seria indevido, mais ainda por ser igual ao de "Vinícius". Gosto da chuva e do sol. E de você na chuva e no sol. E mais das incidências que das coincidências. Acho que eu deveria ter dado um jeito de você poder ouvir aqui a música. E a saudade.
Bins!

Anônimo disse...

É tão inuzitado ver VC meu poeta
Longe da poesia... (do seu soneto)
Não por ser impossivel
Mas por perceber
que seuHUMANO...
Sofreu em tempos paralelos
As mesmas mazelas...

A saudade do que agente é...
Bate na nossa porta.
loucamente e nos pergunta pra onde agente foi?
E nem da pra responder
por que tô aqui parada olhando...
pra essa louca saudade!!!
E o que dizer???
TAVA AQUI O TEMPO TODO...
MAS ME PERDI DE MIM...

LAGRIMAS INUMDAM A IRIS DE MEL
GOTAS IRRIGAM A FASE DE NESCAL
E OLHANDO PRA DENTRO:
... PROCURO O CAMINHO DE VOLTA
MEU POETA...
NÃO SEI SE VC JA ENCONTROU O MENINO QUE RECITAVA
MAS EU NÃO ACHEI A MENINA QUE LEVITAVA

BEIJOS
ISA