Leitura de/entre "Anjos e Demônios"

Há tempos não leio um bom livro. Para ser franco, há tempos não leio livro nenhum - a não ser uma releitura recente que fiz de "O vermelho e o negro", de Ruy Castro. Tenho lido algumas coisas, claro: matérias de revistas e jornais, blogs de toda sorte, notícias sobre o meu FLAMENGO (e como eu queria poder ler cartas antigas que escrevi e que recebi). Mas eu precisava voltar à tona como leitor assíduo que já fui um dia. Um leitor de livros. Talvez isso me desvirtuasse dos meus anjos e demônios.

Decidi que seria hoje a retomada. A despeito da fila de livros que se amontoam na minha cabeceira (eu nem tenho uma cabeceira), resolvi tomar emprestado um livro de um amigo com quem divido apartamento. Tenho alguns livros que comprei ou ganhei de presente e que esperam que os leia um dia, mas preferi pegar esse do meu amigo - eu é que o queria ler há muito. Aproveitei que as duas aulas na faculdade, hoje, seriam as mais morosas, e escolhi a sala de aula como cenário do início da leitura. E viajei...

Agora, cabe voltar a falar deles: meus anjos e demônios. Sabem aquela representação dos desenhos animados que coloca, de um lado, um anjinho que pede para o personagem do filme fazer a coisa certa, e, de outro, um diabinho que orienta pro caminho errado? Pois é. É quase isso. Acho que cutuo alguns anjos e demônios com quem, inclusive, fiz amizade. Por anjos, chamo os bons sentimentos que tenho, a conduta certa, os pensamentos suaves, os momentos de sutileza ímpar e agradável, os passos firmes, os sorrisos fáceis, etc, e, por que não dizer (?), algumas pessoas que estão por perto (quase) sempre. Por demônios, chamo, por "conveniência", o oposto dos anjos: os sentimentos ruins, o ato falho ou a falha de ato, os pensamentos turvos, momentos desastrosos e desastrados, os passos incertos, o gosto de lágrima por trás dos dentes num sorriso (expressão "roubada" de uma amiga), etc. Meus anjos e demônios. É. Meus.

Juro que eu tentava me concentrar na leitura do livro. A propósito disto, muito boa a leitura. Mas, por vezes, precisava voltar e reler um ou dois parágrafos. Quando me dava conta, meu pensamento já se tinha ido longe. Ou eu pensava na saudade de casa, ou no quanto continuo sem entender as mulheres. Ou eu lembrava de quanto já teorizei sobre o amor, ou me questionava sobre o quanto tô levando a faculdade a sério. Bom, acho que deixei de ser um otimista em potencial, muito embora esteja longe de parecer pessimista. Às vezes, tudo que quero que me deixem fazer é seguir em frente...

Ultimamente tenho me visto sempre ladeado, nunca sozinho. Há sempre anjos e demônios por perto. Ora um anjo me diz para "esperar" a hora certa de mergulhar de ponta, braços abertos, olhos fechados, num novo relacionamento; ora um demônio vem e me diz para esquecer certos princípios e, simplesmente, me atirar na primeira atração mais intensa que surgir. Ora um anjo me diz que devo continuar firme no que acredito, confiando no ser humano, e vendo a vida como uma criança vê a pracinha onde brinca - com pureza; ora um demônio pede que eu deixe de ser "besta" e arregasse quem quiser passar por cima de mim ou se aproveitar da minha bondade. Enfim...

E tudo o que eu queria nessa "terça-feira modorrenta" (como disse Mary Schmich), era paz e tranquilidade para ler um livro. Mas, à medida que eu lia, ia sendo interpelado mudamente por esses anjos e demônios. Esses anjos travestidos de amigos e amigas, de pôres-de-sol e luas cheias, de risos e gritos, de tranquilidade e calmaria em fins de tarde. Esses demônios fantasiados de medos e angústias, de ânsias e desesperos, de dúvidas e afazeres chatos.

Mas, consegui ler. Li 30 capítulos que me fazem querer parar de postar aqui e voltar ao livro. E é o que vou fazer. Vou acender a luz, deitar na cama, e ler até que o sono venha e me tire da cena do filme que vejo enquanto leio. Filme esse, uma espécie de protótipo particular do que estará nas telas do cinema a partir da próxima sexta-feira. Amanhã pela manhã não vou poder ler porque tudo indica que, enfim, terei aula de inglês e a de fotojornalismo é a única que tem me atraído. Logo, ler na aula não é uma hipótese tão considerável. Mas, lerei, mesmo, até que o sono venha.

Comecei esse blog, em partes, pelo conselho de um amigo que disse para eu escrever e, assim, esquecer certas mazelas que me atormentavam (e ainda atormentam). Admito que ajudou, mas acho que precisei, além de escrever, voltar a ler.

Então, boa noite é o que se diz, agora. Vou voltar à minha leitura: "Anjos e Demônios", de Dan Brown. E talvez venha aqui, um dia, dizer o que achei do livro; e do filme, que verei na próxima semana...

Abraços e bons dias a todos.