quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O quarto onde eu durmo

O quarto onde eu durmo não tem mais você,
mas tem o seu cheiro e até o seu jeito,
que é quase perfeito, em meio ao meu peito,
me ensinando coisas que eu não sei dizer.

O quarto onde eu durmo agora é maior,
corre mais vento, entra bem mais sol,
parece varanda, tem cara de rol,
mas é só mais um quarto, e só!

O quarto onde eu durmo não tem a bagunça
que você me pedia para arrumar todo dia
e eu sempre dizia, enquanto sorria,
que só ia arrumar no "dia do nunca".

O quarto onde eu durmo ganhou em saudade
ao perder você, e sabemos por que,
não dá para esconder. Só pra você ver,
já perdi o rumo e também as verdades.

Mas, enfim, no quarto onde eu durmo,
não tem mais sua roupa, a alegria é pouca,
a canção ficou rouca, falta beijo na boca,
falta vida, falta força, falta prumo.

Mas, no quarto onde eu durmo restou ainda,
na minha cama sozinha, sua última calcinha
em meio à saudade minha de quando você vinha
com carícias, amores e sedução infinda.

O quarto onde eu durmo era nossa casa,
era nosso armário, nosso vão relicário,
nosso calendário, agora obituário,
de um amor, de uma flor e uma vida já gasta.

Ah, nesse quarto onde eu durmo, até dá pra ver
também suas cartas, suas fotos, suas marcas,
os sons de sua fala e, no canto, uma mala,
que eu nunca desfiz nem vou desfazer.

No quarto onde eu durmo não sinto mais sono,
não sinto mais fome, esqueci o meu nome,
e o meu telefone, parece, se esconde,
pra você não ligar nem me deixar tonto.

Esse quarto onde eu durmo, enfim, é sala
da vida da gente, que sumiu de repente,
da dor que se sente por ter, no presente,
que viver o passado que não se acaba.

O quarto onde eu durmo é a vida infinita
do amor que sentimos e que repartimos,
mas que destruímos com poucos arrimos.
É o amor mais intenso da vida vivida.

O quarto onde eu durmo, menina,
ficou mais sem graça, a paz é escassa,
parece até praça, onde ninguém passa,
e onde espero você às seis da matina.

Então, só te digo, que quando quiser,
seja bem vinda ao quarto onde eu durmo,
dessa vez a bagunça, se pedir eu arrumo,
mas me seja o bem maior que puder.

Porque o meu quarto, que ainda é tão seu,
não pode morrer, e nem se perder,
num fim, num abismo, num nada-querer,
já que ele foi palco do amor seu e meu.

Com a porta escorada, e a luz apagada,
entre e deite comigo, retire o castigo,
me dê o ombro-amigo, e baixinho eu só digo:
"Você voltou... Que saudade, minha amada!"

Use o player abaixo para ouvir a música que escolhi para associar ao texto.

2 comentários:

Sayonara Rodrigues disse...

[No quarto que ainda é meu
contemplo teu rosto, que de tão claro,
passou a ser moço deixando em meu corpo, ainda teu gosto].

[No quarto que ainda é meu
De tão teu, virou nosso.
E eu quero mesmo é morar nele
PARA SEMPRE]... (risos)

Eita, fiquei tentando rimar também, mas acho que não tenho esse dom, não.
Fica aí só um experimento.

Beijos de Boa tarde!!

Cadu Vieira disse...

Beijos de boa tarde, né? (sorriso) Eu gostei, mesmo, foi do "PARA SEMPRE". Eu sempre gosto, né? Eu sempre desarmo; para, depois, desamar. Com você, não parece que vai ser diferente; e não parece que vai ser igual.

Beijo! Abraço! Bons dias! Mamainha...
(sorriso)