sábado, 1 de janeiro de 2011

2010: o pior ano da minha vida

É constrangedor - na falta de uma palavra melhor - estar precisamente no meio dos últimos e dos próximos 365 dias da minha vida. É, eu sei que parece uma afirmação absurda, afinal, é sempre assim. Eu sempre estou bem no meio dos últimos e dos próximos 365 dias da minha vida. Assim como sempre estou bem no meio dos últimos e dos próximos 2, 27 e 181 dias da minha vida. E há ainda mais um absurdo nessa história: como eu posso saber que ainda vou viver mais 365 dias? Não dá. Mas, o fato é que toda virada de ano traz essa carga de "e agora? faço o que?" ou "como é que vai ser daqui pra frente?". Ou, no mínimo, para-se por alguns instantes, poucos que sejam, e pensa-se um pouco sobre tudo que já foi e tudo que está por vir. Na verdade, não se pensa precisamente sobre tudo que já foi, mas apenas sobre o que aconteceu nos últimos 365 dias. E não precisamente sobre tudo que está por vir, mas apenas sobre o que virá nos próximos 365 dias. Ideia fantástica essa de dividirmos a vida em blocos de tempo. Parece que fica mais fácil. Contar; não viver.

Eu sei que duas ou três pessoas que leiam isso - ou até todos que leiam (dois ou três do mesmo jeito) - estranhem o fato de eu estar escrevendo assim, como quem se importa com essas datas emblemáticas, com essas passagens que as sociedades levam tão a cabo. Acho que eu criei o mito de que não me importo com isso, e muita gente levou a sério demais. Não é que eu não me importe com essas datas; apenas não me importo mais que com outras. Ontem, conversando com uma amiga, comentamos sobre o chafurdo que se faz em torno de momentos assim, como o Natal e o Réveillon. E, como ela é uma das que me conhecem e que também acreditaram no mito que eu criei, ela logo associou nosso comentário à minha natureza de "desprezar" essas datas. Mas aí um ponto sobre isso ficou mais claro na minha mente e eu expus para ela: o pior que acho nisso tudo não é a supervalorização que se faz de datas assim; o pior é que as outras datas, que não têm essa carga emblemática toda, são subestimadas. Parece que a vida só deve ser vivida com tanta intensidade nos aniversários, nos natais e nos réveillons a fora. Não!

Bom, mas não é exatamente sobre isso que eu quero escrever. Quero é tentar fazer, mesmo que não tão detidamente como manda o figurindo, um balanço do que foi 2010; para mim, não pro resto. 2010 foi estúpido! Este ano, que já foi tarde, foi uma contravenção, um exagero, um tumor gástrico, seja lá o que isso signifique. Não vou posar de vítima, me apegando apenas aos acontecimentos ruins para dizer que a vida não presta e que tudo, neste ano, foi um grande amontoado de merda. Mas, tampouco vou fazer parecer que atuo como bom puritano, altruísta ao extremo, e fingir que a parte ruim não me afetou sob a justificativa de que estou vivo, com saúde, que há pessoas que me amam, blá-blá-blá. 2010 teve lá seus altos e baixos, mas "nunca antes na história deste" [/Lula] que vos escreve, houve um ano com tantos baixos e, também, com tão poucos altos.

Eu não posso dizer que não sou grato por ter sobrevivido mais um ano, a maior parte dele com saúde, estar pleno das minhas faculdades mentais e físicas, estar empregado e ganhando bem melhor que a grande maioria da população brasileira. Também sou grato porque, apesar de estar longe dos meus pais, irmãos, melhor amigo e maioria dos amigos, sei que eles me amam, que gostam de mim e que posso contar com eles, caso precise, como aconteceu algumas vezes durante o ano. Não sou mal agradecido o suficiente para ignorar o fato de eu ter um teto debaixo de onde dormir, lençóis que me protegem do frio, tenho acesso à internet, curso a graduação que quero, trabalho com o que gosto. E, houve borboletas coloridas, mesmo que esmaecidas às vezes, durante quase todos os dias do ano. Enfim. Há tantas outras coisas mais pelas quais tenho que ser grato, sim, e sou. Há, inclusive, um outro grande e bom motivo para ser grato, sobre o qual só não vou comentar porque "forças maiores" preferiram assim; refiro-me ao desdobramento das tais borboletas coloridas. Mas, é fato que não é a minha consciência disso tudo que faz com eu ignore que, em 2010, muita coisa deu errado, muita coisa desandou, muita coisa desmoronou. E esta é a primeira vez, nos últimos 28 anos, que eu queria acreditar, de verdade, nessa tal magia que, na virada do ano, pode dar um jeito nas coisas e fazer com que tudo seja zerado para recomeçarmos. Eu queria. Queria mesmo!

Vou ser pragmático. Para começar, em 2010, meu joelho voltou a "travar" - se bem que, se não me engano, desde 2001 isso acontece todo ano - e isso me afastou, algumas vezes, de uma das coisas que eu mais gosto de fazer. Esse ano, o MENGÃO não ganhou nada e, ainda pior que isso, foi motivo de piada quase o tempo todo. E o ruim não é a piada em si; é o fato de ter merecido ser piada. Conseguimos perder, em um mesmo ano, duas partidas pro subalterno Botafogo e vê-los campeões do Carioca de forma antecipada. Cambaleamos na Libertadores e caímos fora da competição antes do planejado. Penamos no Brasileirão, bringando contra o rebaixamento, do qual só escapamos na penúltima rodada. E, como se não bastasse, meu saldo nas apostas que todo ano faço no RUBRO-NEGRO foi, pela primeira vez, negativo. Sei que esse motivo para condenar 2010 vai parecer fútil para muita gente, mas 35 milhões de outras pessoas me entendem (sorriso).

Ainda nesse ano que já foi, minha turma e eu, no curso de Jornalismo, passamos por alguns perrengues com um professor que consegue ser pior que 2010, encaramos os desamandos dele e, como a Universidade também é uma selva onde só os mais fortes sobrevivem, estamos perdendo a guerra instaurada e, ao fim do semestre, meu histórico escolar mostra, em duas disciplinas, a para mim inédita palavra "reprovado". Não que as reprovações sejam a parte pior dessa história. Ruim é que vieram de forma injusta.

Mas, o pior de tudo no ano é justamente sobre o que não vou falar. É, as tais "forças superiores" me impedem. Mas, posso dizer que é um mal estar que se arrasta desde o final de 2009 e que entrou nessas primeiras horas de 2011. Por causa desse mal, sofri e fiz sofrer, fui machucado e machuquei. É o tal mal de amor. Começa por eu não ter sabido onde guardar tantos problemas mal resolvidos ou não resolvidos. Aí, acabei tropeçando em tanta coisa ruim que fui deixando pelo caminho. E o problema maior é que o lado "oposto", quando você machuca, doi mais do quando é machucado.

Em 2010, ouvi mentiras nas quais acreditei e menti verdades descabidas. Eu acabei por me perder de mim mesmo, o que é pior do que se perder pro outro. E as consequências disso são terríveis. Nos últimos meses, me senti traído e percebi que eu não sabia, ainda, nada sobre o que se sente nessas horas. Mas, foi bom perceber que, apesar de ainda sofrer danos grotescos com isso, sigo em frente, e, apesar dos pesares, sinto que amar é maior que sofrer. Deste ano, ficarão sons latejando em meus ouvidos - que eu não queria mais ouvir. Ficarão olhos tristes, e ao mesmo tempo impiedosos, me fitando como quem apunhala e pede desculpas, como quem pede amor e ama.

Ao fim disto que escrevo - porque, repentinamente, me deu vontade de encerrar isso - digo que concordo que parece meio insano que um cara que, apenas este ano, manteve um emprego e conseguiu outro na área em que sempre sonhou trabalhar, esteja se reclamando que um romance não anda bem das pernas (se é que ainda anda). Mas, algo me faz ter a certeza de que se vocês passarem pela vida sem amar, aí mesmo é que nunca vão me entender.

De tudo, ao fim e ao cabo deste medíocre 2010, deixa-se ficar uma certeza: seja como for, é bom que ainda faça sentido que um "S" vermelho borboleteie movimentos em minha mochila preta, enquanto eu caminho pelas ruas e calçadas desta cidade; ou de qualquer outra que seja.

Não vou esquecer 2010. Nem quero. Antes disso, prefiro mantê-lo numa gaveta acessível para que eu possa, sempre que achar necessário, remoer algumas coisinhas ainda, e reler os aprendizados que ele trouxe e os que ainda hão de vir por conta dele.

Feliz ano bom para todos! 2011 há de ser melhor...

2 comentários:

Rafaela Gambarra disse...

Cadu, vc já viu um trecho de Drummond que fala mais ou menos isso que você falou?! Quando li, não pude deixar de lembrar! Olha:

"Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustăo. Doze meses dăo para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovaçăo e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar, que daqui para diante vai ser diferente."
Carlos Drummond de Andrade


Eu acredito no milagre da renovação, sim! Claro que se deve dar importância tbm as outras datas, que se deve viver, tambem, nas outras datas... mas acho que a passagem de ano dá a gente uma chance, prontinha, de recomeçar tudo!

Então... "que seja doce!" Que 2011 seja doce, pra você, pra mim, pro Flamengo, pra nossa turma na UFPB, que seja doce! Você merece :)) Bjos!

Cadu Vieira disse...

É, Rafinha... Já vi esse trecho, sim, e pensei nele quando escrevi isso aí.

E vamos lá ver se esse tal milagre existe, memso, né? Dias melhores hão de vir... E que a vida seja plena...

Beijo! Bons dias!