sábado, 26 de setembro de 2009

SÓ COM FIANÇA






"O sândalo perfuma o machado que o feriu."
(LU)


Se eu pagar a fiança,
meu abraço escapa do seu.
Se você pagar a fiança,
sua mão se livra da minha;
mas, só com fiança.

Nosso amor parecia sequestro:
você refém de mim,
eu resgatando você,
eu querendo te ter,
você cuidando de mim.
Mas agora atrás das grades,
depois das nossas palavras hostis,
agora que o sol nasce quadrado,
fica tudo descolorido,
tudo fica tão mais triste,
fica tudo sem sentido.

Nosso amor me prende a você

e ata seus braços em mim.
E você pode até se livrar
do meu coração, meu amor.
Mas, só com fiança.

Só assim para nos livrar da gente:
só com fiança.
É só o que falta para ficarmos inteiros:
só confiança.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Enfim, voltei. Aos 4 ou 5 (ou 9) leitores deste blog, o meu pedido de desculpas por ter estado tanto tempo sem postar. Voltei, e, comigo, trouxe a primavera. Ou terá sido ela que me fez voltar. A propósito disto, o título da postagem de hoje seria, até pouco tempo atrás, "Porque é primavera". A música que tocaria aqui seria "Primavera", do saudoso Tim Maia. Eu falaria, como quase sempre, de cotidianidades - as que vivi nesses longos 29 dias sem vir aqui postar. Falaria de como foram terríveis as férias longe das borboletas. Eu descreveria dias tortuosos que vivi afastado do bem que me fazia mais bem ultimamente e diria sobre como coisinhas bem pequenas me deixaram feliz em alguns momentos. Eu falaria da alegria de voltar a Jampa, de rever as borboletas, de olhar em certos olhos, abraçar certo corpo. Eu também comentaria, claro, sobre outras coisas menos fundamentais para mim: o calor infernal de Jampa e o inferno calorento do Ceará, as quintas-feiras santas e uma quinta-feira sepulcral, o retorno às aulas, o reencontro com os colegas de curso, os novos planos, o novo alcance da visão. E, provavelmente, falaria, sobretudo, sobre a minha decisão de encarar meus medos e tentar ser feliz do meu jeito, com quem também pensava em ser feliz comigo. De certa forma, era isso que as pessoas que gostam de mim me pediam que eu fizesse. Eu fiz. E era sobre isso tudo que postaria. Mas, a vida muda, meus caros, e, vezenquando, os propósitos caem por terra. Os meus caíram todos. Pode até ser que tenha sido uma queda momentânea, mas, por ora, não me resta qualquer propósito. Há algum tempo já, tudo o que resta entre essa cadeira e esse velho computador preto que uso é um amontoado de desânimo e incredulidade. Passei anos planejando uma viagem, e o avião caiu pouco depois de decolar. Treinei meses para jogar um campeonato de futebol, e rompi os ligamentos do joelho com poucos minutos de jogo. Guardei, por tempos, a grana para comprar minha casa, e o banco foi assaltado na véspera de eu fazer o saque. Investi e me dei mal. Acreditei e me quebrei. Tentei e perdi. Sabem quando você vai tentar aprender a andar de bicicleta, já sabe andar numa pequena, sabe que é arriscado já tentar numa grande, mas todos insistem que você tem que tentar, você tenta, cai e se machuca feio? Estou me sentindo assim. Sabem quando jogam uma bolinha de papel na professora, ela vira e lhe acusa, e você não pode fazer muito a respeito porque, apesar de ter consciência que não foi você, não viu quem jogou, e, por isso, não pode se defender? Eu também estou me sentindo assim. Sabem quando você é a única pessoa que poderia ajudar tal outra, e você ajuda, mas, quando você precisa, exatamente, da ajuda dessa mesma pessoa, ela não consegue lhe ajudar? É assim que me sinto também. Sabem quando uma pessoa de quem você gosta muito chora na sua frente por algo que você não fez, mas que ela "tem certeza" de que você fez? Não sabem, né? Eu sei. Eu sinto. É isso que aperta, agora, meu estômago, contraindo tudo. É o que esmaga esse músculo "involuntário" que teimam em ainda chamarem coração. É o que lateja no meu pulso, agora; que aperta o nó na garganta; que arde meus olhos; que vai apagando lentamente planos que estavam bem elaborados na minha mente. É o que faz existir esse amontoado de desânimo e incredulidade entre minha cadeira e meu velho computador preto. Foi-se o inverno, veio a primavera, mas, que droga (!), essas folhas vão continuar caindo...