Eu gosto do fato de ter encontrado você. Sim, porque acho
que fui eu que encontrei você, meio perdida que devia estar, mesmo sem perceber
que estava. Ou talvez não estivesse e eu que prefiro fantasiar isso. Mas o fato
é que gosto.
Gosto do seu olhar desde que o vi. Ou, quem sabe, até antes
mesmo de vê-lo. Talvez porque eu já pudesse imaginá-lo, à minha maneira, quando
queria supor a gente se olhando. Entorpeço quando você me olha sério, reto,
intenso, castanho, quase oriental. À sua medida, oriental.
Gosto de ver você andando e quase rio quando se apressa.
Porque você parece uma menininha de sete anos de idade, quando assusta os olhos
e corre para fugir de um cachorro na rua, que nem está latindo para você. Mas
não importa: você só quer ficar segura.
Gosto quando você erra o que quer dizer, porque “não era bem
assim”, e percebe que falou besteira. Aí você se apressa em tentar corrigir,
tentar me afagar, mas já sabendo que a besteira não foi ruim, que foi até engraçada,
e você trata em deixar tudo mais engraçado e feliz. Talvez só para me ver
sorrindo. Gosto também do jeito que você diz que gosta de me ver sorrindo.
Gosto como percebo tantos detalhes seus, mesmo os que não me
agradam. Por exemplo, quando franze o cenho porque não gosta do que está
acontecendo ao nosso redor e de como algumas coisas perturbam a nossa paz. Ou quando
a parte inferior dos seus olhos, oposta à pálpebra e que eu não sei o nome,
quase treme porque você resiste em dizer algo chato. Ou como o seu olho costuma
ficar vermelho antes de ficar suado. Suado. Nada de choro. Ou como você dá tapinhas
ou soquinhos nas minhas costas quando nos abraçamos e você não está totalmente
entregue ao abraço.
Gosto do seu “sim” quando o mais comum para alguma pergunta minha
seria uma resposta apenas com um verbo. Gosto do seu “daí” e da saudade que
sinto dele. Gosto dos nossos códigos e de como certas coisinhas nossas foram
criadas tão naturalmente. Gosto de parecer idiota contando kombis pelas ruas. Gosto
mesmo.
Gosto de ter uma das suas coxas como travesseiro enquanto
você descansa sua cabeça em uma das minhas coxas. Direita com esquerda ou
esquerda com direita. A propósito, gosto da textura das suas coxas. Gosto apaixonadamente.
Com sofreguidão.
Gosto da sua covinha, sobre a qual há muito não falo e da
qual há tanto tempo gosto.
Gosto do seu contorcionismo tentando fugir da morte que a “cosquinha”
causa.
Gosto do jeito sexy e doce, avassalador e meigo, arrebatador
e pueril com que você age em muitos dos momentos em que estamos a sós. Do
detalhe de cada toque. Dos dedos comprimidos contra as costas. Das unhas
deixando marcas. Das marcas.
Gosto de como você consegue ser tão azul para mim, mesmo
tendo o cabelo tão vermelho. E de discutir com você qual o jeito certo de
segurarmos um a mão do outro, mesmo a gente já estando tão certos de que o
certo é que o meu polegar fique à frente do seu.
Gosto de como sua cintura parece se afunilar ainda mais
quando eu a “modelo” com minhas mãos e espalho meus dedos sobre ela. Mas antes
de fazer isso, gosto de ficar apenas olhando-a, como se fosse a última coisa
que eu pudesse ver ou fazer. E geralmente é assim com cada parte do seu corpo.
Gosto de ver você dançando, mas, mais ainda, gosto de como você, enquanto dança, consegue esquecer que pode me olhar nos olhos e faz isso.
Gosto de ver você dançando, mas, mais ainda, gosto de como você, enquanto dança, consegue esquecer que pode me olhar nos olhos e faz isso.
Gosto de como tentamos ser amigos e de como conseguimos
várias vezes. De como você usa as pontas dos seus dedos entre costelinhas minhas, de como
deixa de ver certas coisas antes mesmo de fechar os olhos, de como fica molhada
de suor sem transpirar.
Gosto, enfim, de estar escrevendo isso. Não para me
declarar. Longe disso. Mas para fazer saber por que ainda estou aqui e o que me
faz querer continuar. Não que outras coisas não existam. Mas essas existem e,
em alguns momentos, isso é tudo o que importa.